Contato, Comentários, Sugestões
jose_crisostomo@uol.com.br
José Crisóstomo de Souza
Deptº, Filosofia FFCH/UFBA
Estrada de S. Lázaro, 197
40210-730 Salvador, Bahia, Brasil
webdesign: Leall

Cruz Costa e Vieira Pinto sobre Filosofia no Brasil – Bento Prado
A Filosofia Brasileira – Antônio Paim
Sobre Filosofia no Brasil – Cruz Costa
A Filosofia no Brasil – Sílvio Romero
As Ideias fora do Lugar – R. Schwartz
Como encarar a cultura europeia? – Vieira de Melo

 
 

FILOSOFIA/BRASIL: REFERÊNCIAS

 


1) A Experiência Histórica Brasileira com a Filosofia

 

Acho que os três trabalhos mais importantes sobre o assunto são a Contribuição à História das Idéias no Brasil, de João Cruz Costa (R.J.: Civilização Brasileira, 1967), sobretudo a extensa e abrangente História das Idéias Filosóficas no Brasil, de Antonio Paim (Londrina: Ed. UEL, 1997), com seus volumes adicionais de complementação e desenvolvimento, e mais recentemente, a História da Filosofia do Brasil (S.P.: Ed. Lyola, 2013), de Paulo Margutti, do qual aguardamos o 2º volume, para o período de 1822 até os nossos dias. Veja-se ainda, ligado ao assunto, mas também ao ponto 2 a seguir, o Um Departamento Francês de Ultramar, “estudos sobre a formação da cultura filosófica uspiana, uma experiência nos anos 60”, de Paulo Arantes (S.P.: Ed. Paz e Terra, 1994). E o ensaio “O problema da filosofia no Brasil”, de Bento Prado Jr. (em Alguns Ensaios, S.P.: M.Limonad,1985.). Meu opúsculo A Filosofia Como Coisa Civil: Ou o que Pode Ser a Filosofia entre Nós também trata do assunto, dentro de um panorama histórico geral. Para textos brasileiros, históricos, de filosofia, ver o blog do Centro de Filosofia Brasileira.


A ilustração acima se refere à sequência de influências dominantes no plano do pensamento, na nossa história: Inácio de Loyola e Tomás de Aquino (no Brasil Colonial), Victor Cousin (no Império), Augusto Comte (República), Karl Marx (Brasil industrial), e, na fase da filosofia universitária uspiana, Gaston Granger, representante da missão francesa que implantou a filosofia universitária em São Paulo, e Giannotti, um dos seus primeiros expoentes entre nós. Mas aqui já entramos no assunto 2.
(JCS)

 
 


2) Filosofia como História da Filosofia: O Trabalho Filosófico na Moderna Universidade Brasileira.


A universidade brasileira tem apenas déc
adas, e o estudo sistemático, acadêmico, de filosofia, no Brasil, em especial no nível de pós-graduação, é mais recente ainda. Como seria possível esperar, dada a nossa formação escolástica e lusitana, ademais débil, ele veio a se desenvolver como comentário “interno”, passivo, repetitivo, mas rigoroso, especializado, dos filósofos europeus históricos, restringindo-se basicamente a uma só “fôrma” ou “matriz” - em primeiro lugar, e historicamente mais ao fundo, ibérica, e, em segundo lugar, continental, francesa. A comunidade filosófica brasileira universitária, de matriz franco-uspiana, não mais amadora e ensaísta, mas especializada, técnica, constituiu-se, segundo o que parece ser um clássico caso kuhniano, a partir de uma “realização exemplar” (e de suas aplicações exemplares): a formulação de Victor Goldschmidt sobre o estudo filosófico como “leitura interna” das obras dos grandes filósofos, em “Tempo Histórico e Tempo Lógico na Interpretação dos Sistemas Filosóficos”, um textinho de umas dez páginas. Mas acabou aparenemente replicando, de alguma forma nosso modo tradicional de pensamento.


Goldschmidt, Martial Guéroult e Gaston Granger podem ser contados entre os pais fundadores franceses do referido projeto, que foi implantado na USP, e Oswaldo Porchat Pereira e José Arthur Giannotti estão entre seus primeiros rebentos nacionais, e apóstolos dedicados. left0Anos depois, Porchat iniciaria o questionamento crítico e autocrítico desse modelo de trabalho, aqui exposto numa fala a universitários baianos. Sobre isso, ver também “Historia Stultitiae e História Sapientiae” (Discurso, USP, 2001), de Carlos Alberto de Moura. Um panorama de representantes dessa nova filosofia universitária brasileira é o livro Conversas com Filósofos Brasileiros (São Paulo: Ed. 34, 2000), que deu lugar a uma rápida polêmica: Leia aqui o comentário crítico ao livro e a réplica de alguns outros colegas.


Curiosamente (ou significativamente), registre-se, junto com esse goldschmidtismo dominante e conservador, uma marcante influência, nesse grupo e em torno a ele, foi a do pensamento de Marx e associados, também em leitura ‘técnica’ naturalmente (metodologicamente francesa), sobre essa matriz uspiana, e, não por acaso, então, uma hegemonia da filosofia clássica alemã (por via metodologicamente francesa!), que se casou, mesmo que guardadas suas diferenças, com a influência alemã (não afrancesada) no sul do país, por imigração e colonização.


Assinale-se ainda, por fim, que, simultaneamente com essa vertente de importante ‘filosofação’ técnica e histórica goldscimidtiana, desenvolveu-se uma outra, menos dominante, ‘de direita’, anti-marxista, abertamente conservadora, mais ligada a matrizes jurídicas e/ou eclesiais, menos técnica mas igualmente ‘historica’ e ‘clássicista’ e por fim também alemã (e kanttiana). Em flagrante diferença com a primeira, essa vertente, entretanto, no seu ‘espiritualismo’ conservador, no seu ‘tradicionalismo’ religioso, buscava cultivar expressões brasileiras, lusitanas e ibéricas de pensamento, e pôr-se em sua continuidade.
(JCS)

 
 


3) “Metodologia do Trabalho Filosófico”:


Sobre esse assunto, fora a receita goldschmidtiana, do comentário interno, creio que temos muito pouca coisa. Nem mesmo são vistos por aqui os tradicionais manuais franceses da dissertação escolar de filosofia - como, por ex., o Guide de la Dissertation et du Commmentaire Composé, de Michel Gourinat, ou o Méthodologie Philosophique, de Henri Pena-Ruiz. E, de um modo geral, temos dificuldade de entender que se possa fazer filosofia de mais de uma maneira, ou de outra maneira. Aqui apresento dois pequenos guias de elaboração de um trabalho escolar em filosofia, absolutamente elementares e mais voltados para alunos de outros cursos, não para futuros especialistas. Não são bem os guias que eu escreveria, mas dão algumas dicas que podem interessar aos estudantes e professores.
(JCS)

 

UM GUIA PARA ESCREVER TRABALHOS DE FILOSOFIA
por Ellen Watson

UM GUIA PARA ESCREVER ENSAIOS DE FILOSOFIA
por Colin Allen

Se você se interessar por guias para a dissertação filosófica escolar francesa, pode pesquisar “méthode de la dissertation philosophique”, no Google, onde vai encontrar várias opções interessantes. Espero mais adiante encontrar tempo para selecionar um ou dois desses materiais, traduzi-los e oferecê-los aqui.

 

 

4) O Presente e o Futuro da Filosofia no Brasil

O extraordinário crescimento quantitativo e qualitativo da universidade brasileira, dos cursos de filosofia e dos seus programas de pós-graduação em filosofia, deu lugar a um contingente tão vasto de titulados e pesquisadores que dificilmente ele poderá ser mantido na simplicidade de seu modelo original único, de filosofia de comentário. E, simultaneamente a isso, o vasto processo de internacionalização/globalização das comunicação e dos intercâmbios culturais e acadêmicos, bem como de modernização e transformação social e política em geral, dificilmente deixariam de produzir uma ‘atualização’ e ‘modernização’ também do modelo brasileiro de trabalho em filosofia. E é inevitável que nos abramos aos modos de fazer filosofia mais contemporâneos e representados pelas práticas dos países mais modernos e desenvolvidos. Sobre isso, ver a Carta de Princípios do nosso grupo de pesquisa, o Poética Pragmática. (JCS)