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José Crisóstomo de Souza
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Em 1998, depois de mais de duas décadas, a UFBA realizou concurso para professor titular, e o fez simultaneamente em todos os seus departamentos. Na cerimônia de investidura, falou um representante de cada área da Universidade, com direito ao tempo de cinco minutos. Abaixo, a minha fala pela área de humanas – para exatos cinco minutos.

 

Senhor Reitor, demais autoridades, senhores convidados, senhores estudantes, colegas professores:

Contam que quando D. Pedro passou pela Bahia, o ilustre professor que o guiava em visita real à sua escola (creio que uma faculdade) desculpou-se por não tirar o chapéu na presença do Monarca, pois, disse ele, “não faria bem aos meus alunos imaginar que exista alguém acima de seu mestre.” Entendo que, no caso, não se tratava, com certeza, de um professor titular, que essa não será, em absoluto, a posição de um professor titular diante de seus alunos, muito menos diante de seus colegas ou da sociedade. Nem pompa, nem reedição de qualquer traço de “ancien régime” – mas, sobretudo, uma disposição de trabalho. Participo, assim, da expectativa do Senhor Reitor e dos colegas com quem pude conversar, de que o numeroso contingente dos que ora assumimos a honrosa função de titulares poderá representar, com seu trabalho - sem chapéu, e de mangas arregaçadas - uma contribuição sensível à qualidade e à eficiência dos nossos cursos, bem como ao desenvolvimento da investigação e da produção de conhecimento na nossa Universidade.

Dentro de uma variedade de perfis pessoais, e da particularidade das circunstâncias que cercam cada um, imagino que os professores titulares devam caracterizar-se, nas suas respectivas áreas, antes de mais nada, como “gente que faz” e motiva a fazer. Como gente disposta a fazer junto com os outros – com seus colegas, com os estudantes -, concorrendo para promover projetos acadêmicos integrados, adequados às condições, ao perfil e à vocação, em aprimoramento, de seus respectivos cursos e departamentos. 1) Objetivando cursos onde se dê um aprendizado real, socialmente relevante. 2) objetivando a promoção da investigação e da publicação – inclusive estudantil. 3) e, finalmente, objetivando integrar essas atividades ao conjunto da universidade, e em última instância (ou também primeira) à comunidade, à região e ao país.

Como professor titular de filosofia, faço parte da extensa e diversificada área das “humanas”, que inclui, além da Faculdade de Filosofia (sua sede e alma mater), as faculdades ou escolas de direito, economia, educação, administração, contábeis, informação, comunicação. Mas a filosofia e as ciências humanas se articulam também com as chamadas ciências duras, também com as engenharias, também com a área de saúde, também com as letras e com as artes. Pois, afinal de contas, todos os saberes e competências universitários nós os queremos humanos, sociais, abertos, além de dotados de imaginação e sensibilidade, e de ética, tanto quanto os queremos técnicos, competentes e rigorosos. Essa integração, creio eu, é a própria alma da universidade, e poderia ser visada de modo especial pelos professores titulares das diferentes áreas.

Consta que aquela pirâmide que vemos na cédula de um dólar, com um olho no topo, significa que, por qualquer lado que você ascenda, do alto se descortina a mesma visão abrangente, integradora. Ressalvadas as implicações místicas e as ambições metafísicas desse simbolismo, e também ressalvado que os titulares estão longe de ter chegado a qualquer cume ou tópos ouránios (a altura de seu salário, pelo menos, não é nada vertiginosa), é fato que eles podem estar, depois do bom percurso que escalaram, em posição de contribuir para aquela abrangência e integração, para articulações e interfaces entre diferentes racionalidades (como na idéia, já levantada entre nós, de um fórum de titulares)...

Sempre em comunidade com a cidadania, também, para que a universidade possa responder aos grandes desafios e mesmo ameaças que hoje enfrenta. Com senso crítico, mas igualmente – digo, para concluir - auto-crítico. Como no caso daquele velho professor da Universidade da Califórnia, Berkeley (esse, sim, titular), que, perguntado sobre como sua universidade havia se tornado um tamanho e tão rico depósito de conhecimento, respondeu modestamente: “Talvez porque os que entram (os calouros) nos tragam tanto, e, em compensação, os que saem (os concluintes) levem tão pouco”. Que a segunda parte de sua conjectura, entre nós, não se verifique.

Muito Obrigado. (JCS)