UM
GUIA PARA ESCREVER ENSAIOS DE FILOSOFIA
Colin
Allen
(Trad.: José Crisóstomo de Souza)
(...)
Conteúdo
Para
ter sucesso ao escrever um ensaio, você deve procurar entender
primeiro o tópico que você vai abordar. Antes de
escrever qualquer coisa, você deve ter certeza de que entende
o tópico e para isso você deve refletir cuidadosamente
sobre ele e discuti-lo com seu instrutor ou com outros estudantes.
Seu ensaio deve estar estruturado em torno de um argumento ou
argumentos relevantes para o tópico (Cap. 3). Num ensaio
breve, é especialmente importante evitar material irrelevante.
Por exemplo, NÃO comece seu ensaio com algo do tipo Os
filósofos têm meditado sobre a natureza da verdade
desde o começo dos tempos. Vá direto ao ponto
(Cap. 8). Em particular, você deve começar descrevendo
a questão ou o tópico que você vai abordar
e dando alguma indicação do objetivo que você
visa (p. ex., responder à questão de um modo ou
de outro, ou, senão, oferecer uma análise de uma
abordagem particular do assunto). Se você não está
escrevendo uma resposta a uma determinada questão que seu
professor lhe passou, então é também importante
dar um título para o seu ensaio.
A
filosofia lida com argumentos. Você terá a tarefa
de identificar e explicar a estrutura e o conteúdo dos
argumentos das leituras prescritas e, talvez, de apresentar seus
próprios argumentos a respeito. Se você não
entende a ralação entre premissas e conclusões
então trate de entender, antes de tentar fazer seu primeiro
ensaio (Cap. 2 e 5). Você pode também pensar em fazer
primeiro um curso introdutório de lógica..
Nível
de Apresentação
Escrever
textos num curso serve a dois propósitos. O primeiro e
talvez o mais importante para você é ter uma nota.
Para isso, espera-se que você demonstre que entende bem
as idéias e os argumentos apresentados no texto a ser lido.
Em qualquer área, não apenas em filosofia, uma das
melhores maneiras de descobrir se alguém entende alguma
coisa é lhe pedir para explicá-la a uma outra pessoa
que não tem ainda conhecimento do material. Tendo isso
em mente, você deve imaginar que está escrevendo
seu ensaio, não para seu professor, mas para um leigo inteligente,
como no caso de um amigo que não esteja fazendo o curso
(Cap. 1). (Se você tem um amigo gentil que corresponde a
tal descrição, uma boa ajuda pode ser ele ler seu
ensaio e ver se consegue entendê-lo). Da perspectiva do
professor, um resumo ponto por ponto do texto que lhe foi passado
não demonstra por si uma verdadeira compreensão
sua. Você deve tentar destacar a estrutura lógica
dos argumentos que você está apresentando.
O
segundo propósito de escrever um texto é você
aprender como fazer filosofia e como escrever bons trabalhos de
filosofia. Para isso, as tarefas de leitura do curso podem não
ser exemplos suficientes. Uma boa parte da filosofia consiste
em pesar argumentos, tentar pensar em modos de questionar esses
argumentos, e pensar em como esses questionamentos poderiam ser
enfrentados. Isso exige um bocado de pensamento! Você não
pode esperar simplesmente parafrasear o que você leu e com
isso se sair bem em filosofia. Depois que você tiver pensado
o suficiente, você põe por escrito o argumento principal
e toma em consideração os desafios possíveis
ao argumento (Cap. 3). Quanto mais metodicamente isso for feito,
mais fácil será para o leitor acompanhar o que você
está fazendo.
As seções abaixo contêm mais dicas para escrever
um bom ensaio.
Clareza
de exposição
Entre
as coisas que você pode fazer para tornar sua escrita compreensível
incluem-se:
1.
Introduza os termos técnicos expressamente, por meio de
uma definição ou de exemplos. Não comece
simplesmente a usá-los sem uma explicação
(Caps. 1 e 5).
2. Assegure-se de que a construção de suas orações
não as deixe ambíguas ou vagas (Cap. 7). É
muito fácil deixar de perceber essas coisas, porque você
sabe o que quis dizer com uma determinada oração
quando você a escreve. Mas você não pode esperar
que quem vai ler o seu ensaio seja capaz de saber o que você
tinha em mente.
3. Releia seu ensaio frase por frase. Pare após cada frase
e se pergunte se ela diz exatamente o que você quis dizer.
(...) Uma coisa que ajuda é você dar um tempo entre
a escrita e a leitura o que supõe que você
comece a trabalhar nas suas tarefas bem antes do dia da entrega.
4. Ofereça marcos de sinalização
ao seu leitor. Indique expressamente a estrutura de seu ensaio
declarando de que modo o que você está escrevendo
se relaciona com a questão que você está respondendo.
Além disso, não deixe de indicar expressamente quando
você está apresentando sua própria posição
e quando você está relatando a de outra pessoal.
O leitor nunca deve ficar em dúvida quanto a de quem são
as idéias que você está apresentando. Ao apresentar
um argumento, seu ou de outrem, não deixe de indicar quais
são as premissas e quais são as conclusões
de um argumento.
5. Quando você estiver tentando apresentar um argumento,
não recorra à mera retórica. Isso pode resultar
em afirmações ambíguas ou obscuras, que não
oferecem verdadeiras razões e que deixam assim a sua posição
vulnerável a algum questionamento.
(...)
Citação e Plágio
Todo
o trabalho deve ser seu, com a exceção de breves
citações que são introduzidas em apoio a
uma determinada interpretação, sua, do texto. Em
outras palavras, você não deve usar uma citação
a não ser quando você diz alguma coisa sobre o que
você está citando. (...).
(...)
Quando você estiver explicando um argumento de um texto
que lhe foi passado, não é suficiente citar ou parafrasear
diretamente o texto. Você deve reformular o conteúdo
em suas próprias palavras. Pegar uma frase de qualquer
texto e substituir suas palavras por sinônimos não
é aceitável. (...). |