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José Crisóstomo de Souza
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Pensamentos do Filósofo Luso-Brasileiro Mathias Aires (1705-1770)
Escreveu o ‘Discurso sobre a Vaidade entre os Homens’, mas também ‘Problemas de Arquitetura Civil’ (‘Por que os edifícios antigos duravam mais e resistiam melhor a terremotos’)

Tudo quanto vejo é com olhos desenganados. Talvez por isso vejo as coisas como são e não como se mostram. Porque o desengano tem virtude e força para arrancar da formosura o véu cadente e mentiroso de que o teatro da vida se compõe.
As ciências humanas que aprendemos comumente são aquelas que importava pouco que soubéssemos, devíamos aprender-nos a nós, isto é, a conhecer-nos; de que serve o saber, ou o pretender saber, como o mundo se governa, ao mesmo tempo que ignoramos o como nos devemos governar? Para tudo fomos sábios só para nós somos ignorantes.
O engano vestido de eloquência e arte atrai e a verdade mal polida nunca persuade. Fazemos vaidade de errar com sutileza e temos pejo de acertar rusticamente.
Poucas vezes se expõe a honra por amor da vida e quase sempre se sacrifica a vida por amor da honra.
As regras não governam aos homens, estes é que governam as regras.
O valor não é igual em toda parte; porque a vaidade não é em toda parte a mesma.
Contra o nosso parecer nunca achamos dúvida bastante, contra o dos outros sim. A vaidade é engenhosa em glorificar tudo que vem de nós, e em reprovar tudo que vem dos outros.
A nobreza foi a maior máquina que a vaidade dos homens inventou.
São raros os que nas letras buscam a ciência; o que buscam é utilidade e aplauso.
Os sábios da terra não são os mais próprios para o governo dela.
Não há maior injúria que o desprezo; e é porque o desprezo todo se direge e ofende a vaidade.
A vaidade das letras é maior que a vaidade das armas.
A falta de religião e de bons costumes faz cair o homem no estado total de perversidade.
Que são os homens mais do que aparências de teatro? Tudo neles é represntação que a vaidade guia.
A vaidade é cheia de artifício e se ocupa em tirar de nossa vida e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas.
O amor não se pode definir; e talvez esta seja a sua melhor definição.
Conhecemos as coisas não pelo que elas são em si, mas pela diferença que entres elas há.
A razão mais fácil costuma ser às vezes a mais certa.
Ama-se por vaidade, e também por vaidade não se ama.
O estimarem-se as coisas que não têm valor é o mesmo que fazê-las estimáveis.
Os que crêem que sabem mais que os outros, ou se enganam, ou se persuadem bem; se se enganam, o mesmo engano lhes serve de ludíbrio; se se persuadem bem, a vaidade da ciência os faz tão ferozes e severos, que ficam sendo insuportáveis.
Se alguém se persuade que há de saber a verdade dos sucessos pela lição da história, engana-se, quando o muito que há de saber é a história do que os autores escreveram, e não a verdade daquilo que escreveram.
O desejo de contar coisas admiráveis, e a vaidade que o historiador tem de manifestar que as sabe, é o que fez sempre inventar e escrever sucessos fabulosos.

 

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