No desenvolvimento dessa posição trato do nosso emaranhamento prático sensível
criativo com o mundo, na perspectiva do que chamo de materialismo prático-poiético,
pondo em relação realidade, produção e conhecimento, buscando distinguir meu
posicionamento a esse respeito tanto de certo realismo empirista representacionista,
concebido aqui como pouco interessante para a realização das disposições livres,
prático-criadoras, dos seres humanos, quanto ao mesmo tempo de um antirepresentacionismo
linguístico que tem preocupações semelhantes às nossas, tomado
aqui, porém, como insuficientemente aberto à criação material sensível, embora
disposto ao reconhecimento da dimensão social, não-fundacionsta, daquele
emaranhamento. Faço isso pela via de uma combinação de não-representacionismo
prático e materialismo poiético, sugerida por mim como possivelmente mais
apropriada às nossas circunstâncias e necessidades, de tempo e lugar. Isso com base
na utilização de quatro noções principais: a) a de intencionalidade prático-sensível,
significadora, b) a da ação humana como poiésis, fazer criador que introduz coisas no
mundo, c) a do real e de nós próprios como atividade sensível e como artefatuais, e d) a
de significação e normatividade como constituídas na nossa própria prática de lidar
com o mundo orientada por propósitos, apoiada e permanentemente mediada e
modificada por objetos. Procedo então por quatro passos principais: 1) exponho o lado
mentalista abstrato, sensível-intuicionista, do empirismo realista, 2) exponho o antirepresentacionismo
linguístico que a ele se contrapõe como linguicêntrico e idealista,
relativista e ascético, e, 3) como alternativa a essas duas figuras, trato de chegar a um
embrião de pragmatismo sensível-criativo, para, finalmente, por conclusão, 4) esboçar
uma concepção holista-materialista objetual do mundo, da cultura e de nós mesmos,
segundo a qual os seres humanos permanente põem/criam novos objetos (artefatos) e
práticas, e são por sua vez postos/constituídos/criados por tais objetos e pelas
práticas/relações que eles promovem ou às quais dão suporte. |