Contato, Comentários, Sugestões
jose_crisostomo@uol.com.br
José Crisóstomo de Souza
Deptº, Filosofia FFCH/UFBA
Estrada de S. Lázaro, 197
40210-730 Salvador, Bahia, Brasil
webdesign: Leall

 

 

(Versões resumidas, em português, inglês e espanhol)

Destranscendentalizando o Materialismo Prático-Normativo de Marx

Chamo de ponto-de-vista materialista prático-normativo, transcendental, aquele ao fundo tanto da concepção histórica como da crítica da economia política de Marx, aquele que Marx deixa ver ou entrever primeiro nas Teses ad Feuerbach (de forma direta mas muito condensada) e na Ideologia Alemã (na primeira seção), bem como no Manifesto Comunista e, de forma acabada mas um tanto velada, nos Grundrisse e no Capital. Trato de mostrar que tal materialismo guarda pontos de contato com certo pragmatismo, inclusive dos nossos dias, tanto quanto diferenças essenciais, que constituiriam justamente seu viés transcendentalizante. Com efeito, o materialismo prático-histórico de Marx pode ser lido como compreendendo seis momentos que se interpenetram e articulam: 1) uma recusa do “empirismo dogmático”, “positivista”, intuicionista-passivo, mentalista-cartesiano, bem como do idealismo subjetivista; 2) uma superação da concepção do mundo e do sujeito como estáticos, exteriores um ao outro, e, logo, possivelmente, o abandono do ponto-de-vista do “espectador” e de fixação objetivista-representacionista do real; 3) uma desqualificação do indivíduo “abstrato” da percepção empirista britânica como “robinsonada”: a ficção do indivíduo como dissociado - descontextualizado - do “conjunto das relações sociais” e de uma “forma de vida social determinada” ou “modo de vida” (Lebensweise); 4) uma crítica do real social como essencialmente cindido, hierarquizado e atomizado pelas “más” relações e práticas sociais imperantes (em que os homens se põem ou são postos), que acarretariam o desdobramento/duplicação do mundo também no plano do conhecimento e do pensamento, na religião e na filosofia; 5) crítica essa sustentada pela dedução/construção de um fundamento forte, de fundo, intramundano mas “essencializado”, que determina, por necessidade, o rumo da supressão prática da contradição e a restauração (reconciliação) da unidade-solidariedade social “perdida”, com o fim da “autoalienação do homem” - para além do ponto-de-vista da Sociedade Civil Burguesa, de hoje, rumo à Sociedade Humana, Comunista, de amanhã, pela necessidade e pelo “imperativo categórico” de sua realização. Tudo isso atravessado por 6) um desafio, digamos, de “epistemologia política”, de congruência de pontos-de-vista “epistemológicos”, sobre conhecimento e desconhecimento, com posições político-econômico-sociais, com que Marx pretende refutar o ponto-de-vista liberal e sustentar seu ponto-de-vista comunista. O que nos enseja perguntar, alternativamente, por um ponto-de-vista “epistemológico” destranscendentalizado, “democrático”. Faremos isso, de um lado, em relação crítica com Marx, questionando os elementos de seu remanescente subjetivismo, mentalista-solipisista, representacionista (materialista burguês, séc. XVIII, se se quiser), subjetivismo esse magnificado (numa hipertrofia da figura do sujeito metafísico) com recurso às categorias do idealismo alemã - elementos que mereceriam ser flexibilizados. E, de outro lado, em diálogo com o debate filosófico contemporâneo, e agora numa relação positiva com Marx, isto é, com o lado prático não transcendentalizante nem essencialista de seu materialismo normativo, procedendo a uma derivação pragmatista-histórica que se afaste da quase redução - de parte da filosofia contemporânea - da ação humana (relevante) à prática linguística, e de contexto a linguagem, com consequências quer “formalistas”, quer “relativistas” e “anti-realistas”, para as quais a remissão a noções como formas de vida, mundo da vida, cultura, contexto, etc., por si sós, tem resultado ser uma débil “complementação”.

Palavras-chave: atividade sensível - ponto-de-vista - desdobramento - transcendentalização - sujeito

Abstract: This is an essay of immanent critique, tentatively pragmatist, centrally of Marx’s Theses ad Feuerbach but not only, which tries to interpret, approximate and distinguish its formulations from what is here conceived as pragmatism as a detranscententalized ground. The paper suggests that the practical-normative materialism of the Theses may be read as basically encompassing five interpenetrated moments: 1) a refusal of “dogmatic empiricism”, passive-intuitionist, Cartesian-mentalist, as well as of subjective idealism; 2) the overcoming of an understanding of world and subject as static, exterior to one another, and therefore the possible abandonment of the “spectator’s point-of-view” and of the objectivist-representationalist fixation of reality; 3) a disqualification of the “abstract individual” of empiricist perception, i.e. of the fiction of the individual as dissociated from the whole of social relations and from a determinate social form; 4) a critique of social reality as both essentially severed and atomized by dominant “bad” social relations, which entail the supposed duplication of the world, also in religion and philosophy; 5) this critique supported by the deduction-construction of an “essentialized” foundation, although allegedly earthly, which determines the practical suppression of the contradiction and the restoration of social unity-solidarity, as the end of “man’s self-alienation” opens the way, beyond the individualist point-of-view of today’s civil society, to the humane society of tomorrow, and to the need and imperative of its realization. All that, traversed by a problem of “political epistemology”, i.e. of the congruence of epistemological points-of-view with social and political, practical, circumstances and points-of-view, to which Marx perhaps does not answer adequately, even beyond the Theses.
Key-words: practice - sensuous activity - standpoint - duplication - normativity

Destranscendentalizando al Materialismo Práctico-Normativo de Marx, en Pragmatismo no Lingüistificado.

Llamo punto-de-vista materialista práctico-normativo, transcendental, aquél al hondo sea de la concepción histórica sea de la crítica de la economía política de Marx, aquel punto-de-vista que Marx deja ver o entrever, primeramente en las Teses ad Feuerbach (de forma directa pero muy condensada) y en la Ideología Alemana (en su primera sección), bien así en el Manifiesto Comunista y, de forma completa pero algo encubierta, en los Grundrisse e en El Capital. Trato de mostrar que este materialismo tiene puntos de contacto con el pragmatismo, incluso el de nuestros días, así como diferencias esenciales, que constituirían justo su desviación transcendentalizante (a Marx le gusta hablar de esencia y desde el punto-de-vista de la esencia, en oposición a apariencia, así como de un tipo de ilusión transcendental).

En efecto, el materialismo práctico-histórico de Marx, en las Teses, puede ser leído como comprendiendo seis momentos que mutuamente se penetran y se articulan: 1) un rechazo al “empirismo dogmático”, “positivista”, intuicionista-pasivo, mentalista-cartesiano, así como al idealismo subjetivista; 2) una superación de la concepción del mundo y del sujeto como estáticos, exteriores un al otro, y, luego, posiblemente, rechazo al abandono del punto-de-vista del “espectador” y de fijación objectivista-representacionista del real; 3) una descalificación del individuo “abstracto” de la percepción empirista como “robinsonada”: la ficción del individuo como disociado - descontextualizado - del “conjunto de las relaciones sociales” y de una “forma de vida social determinada” o “modo de vida” (Lebensweise); 4) una crítica del real social como esencialmente escindido, jerarquizado y atomizado por las “malas” relaciones y prácticas sociales vigentes (en que se ponen o son puestos los individuos humanos), que acarrearían el desdoblamiento/redoblamiento del mundo también en el ámbito del conocimiento e del pensamiento, en la religión como en la filosofia; 5) tal crítica sustentada por la deducción/construcción de un fundamento fuerte, de hondo, intramundano pero “esencializado”, que determina, por necesidad, el rumbo de la eliminación práctica de la contradicción, y la restauración (reconciliación) de la unidad-solidaridad social “perdida”, con el fin de la “auto-alienación del hombre” - para allá del punto-de-vista de la Sociedad Civil Burguesa, de hoy, rumbo a la Sociedad Humana, de mañana, por la necesidad y por el “imperativo categórico” de su realización. Todo eso atravesado por 6) un desafío podemos decir que de “epistemología política”, o sea, de congruencia de puntos-de-vista “epistemológicos”, acerca de conocimiento y desconocimiento, con posiciones político-económico-sociales, con que Marx pretende refutar el punto-de-vista liberal y sostener su punto-de-vista comunista. Lo que nos da la oportunidad de preguntar, alternativamente, por un punto-de-vista “epistemológico” destranscendentalizado, “democrático”. Lo haríamos, de un lado, en relación crítica con Marx, cuestionando a los elementos de su remaneciente subjetivismo, mentalista-solipsista, representacionista (materialista burgués, siglo. XVIII, se si quiera), subjetivismo ese magnificado (por una hipertrofia de la figura del sujeto metafísico) por recurso a las categorías del idealismo transcendental alemán - elementos que merecerían ser flexibilizados. Y lo haríamos, de otro lado, en diálogo con el debate filosófico contemporáneo, y ahora en un relación positiva con Marx, es decir, con el lado práctico sensible no transcendentalizante ni esencialista de su materialismo normativo, procediendo a una derivación pragmatista-histórica que se aleje de la casi reducción - de parte de la filosofia contemporánea - de la acción humana (relevante) a práctica lingüística, y de contexto a lenguaje, con consecuencias sean “formalistas”, sean “relativistas” e “anti-realistas”, para la cual (consecuencia) la remisión a nociones como formas de vida (Lebensformen), mundo de la vida (Lebenswelt), cultura, contexto, etc., por si solas, han resultado ser no más que una débil “complementación”.

Palavras-llave: actividad sensible - punto-de-vista - desdoblamiento - transcendentalización - sujeto

VOLTA